Olá amigos!! Temos discutido a respeito da confecção do laudo ecocardiográfico aqui em nosso serviço, e inclusive atualizamos uma série de informações em nossa tabela padrão, seguindo as recomendações mais atuais do ASE. Neste post quero fazer algumas considerações sobre o laudo e seu público-alvo: o médico assistente do paciente.
Muitas vezes utilizamos expressões e dados ecocardiográficos rebuscados, mas com muito pouca ou nenhuma utilidade para o colega que acompanha o paciente no consultório. Vale sempre lembrar que a forma de descrever o exame e suas conclusões vão ser lidas por colegas que no mais das vezes não possuem especialização em ecocardiografia.
Para estruturar a descrição do laudo, deixo aqui minha opinião sobre a confecção de suas diferentes partes (seguindo a sequência que utilizamos em nosso serviço):
Considerações gerais: Aqui costumo descrever se há algum tipo de limitação técnica a realização do exame, dificuldade de obtenção de janela, etc. Além disso, pessoalmente, costumo descrever se o estudo foi realizado em outro ambiente que não a sala de exames (UTI, Centro Cirúrgico, etc), destacando a utilização de aminas vasoativas, ventilação mecânica invasiva ou não durante a coleta dos dados ecocardiográficos.
Ventrículo esquerdo: Costumo seguir a análise descritiva. Primeiramente informo se há aumento cavitário, descrevo a geometria do ventrículo esquerdo (classificando em geometria normal, remodelamento concêntrico, hipertrofia concêntrica ou excêntrica), descrevo alterações segmentares se houver, e informo a função sistólica global (por Simpson biplanar, análise do Strain longitudinal global ou análise qualitativa). Com referência a análise quantitativa, tenho por hábito descrever a fração de ejeção em faixas de percentil de 5%. Costumo descrever aqui também o padrão de função diastólica do paciente.
Septos: Em geral, descrevo a geometria e conformatação do septo interventricular (se há acentuação do ângulo aorta-septo, se existe algum tipo de aceleração de fluxo na VSVE, se existe CIV, etc). Evito o uso do termo "septo sigmóide", pois pessoalmente não gosto. Quanto ao septo interatrial, costumo descrever seu grau de mobilidade, caracterizando-o como redundante ou aneurismático, e descrevo a presença ou ausência de shunt ao Doppler.
Válvulas: A minha sequência é basicamente a mesma para todas as quatro válvulas: avaliação da anatomia e morfologia da válvula (dando destaque para a presença de espessamento, calcificações, vegetações, rafes, etc), seu grau de mobilidade (se preservada ou restrita, e se possível quantificando a restrição), e no caso da presença de estenoses, sempre costumo descrever os gradientes médio e máximo, velocidade máxima de fluxo e a área valvar quando possível de ser calculada. Em relação aos refluxos, me parece importante, além da avaliação crítica qualitativa, a descrição dos parâmetros objetivos (PHT, ERO, volume regurgitante, etc) que embasaram a conduta, apesar de não descrevê-los na conclusão, por achar que são por demais específicos ao ecocardiografista (ao clínico assistente, em minha opinião, interessa principalmente o grau do refluxo). Também em relação ao refluxo ,tento sempre descrever a presença de excentricidade do padrão de fluxo, e tento buscar alguma etiologia relacionada que possa explicar a regurgitação (retração isquêmica de cordoalhas, ruptura ou perfuração de folhetos, flails, prolapsos, etc).
Cabe ressaltar de forma especial a válvula mitral. Não descrevo de forma habitual, mas em pacientes selecionados, procuro destacar as relações E/A, E/e´ septal e lateral, bem como o valor absoluto da onda e´ septal lateral e média, como forma de permitir a avaliação do padrão de enchimento ventricular esquerdo.
Quanto a válvula tricúspide, é sempre importante perseguir a detecção do gradiente VD-AD e fazer a correta estimativa da pressão atrial direita, para o cálculo correto da PSAP. Costumo descrever os dois gradientes (VD-AD e VD-AP) no laudo, para permitir ao clínico assistente uma análise mais pormenorizada do paciente.
Na válvula pulmonar, em especial naqueles casos com suspeita de HAP, tenho descrito sempre os valores de pico sistólico e diastólico do refluxo pulmonar, para permitir a estimativa da PMAP e PDAP. Não faço de rotina a medida do TAc no fluxo da VSVD.
Átrio esquerdo: Como rotina, e para permitir a análise mais pormenorizada da função diastólica, tenho feito o volume atrial esquerdo de rotina, sempre indexado para a ASC.
Ventrículo direito: A descrição segue resumidamente a mesma ordem do ventrículo esquerdo, em geral destacando, nos casos em que a condição clínica do paciente ou a solicitação do exame assim direcionar, os valores da onda sistólica tissular da porção lateral do anel mitral e o TAPSE, e em casos selecionados a Área fracional do VD. Tenho feito o Strain longitudinal do VD apenas em casos de exceção.
Aorta Ascendente, Arco aórtico e Raiz aórtica: Tenho por hábito sempre realizar a indexação da raiz e da porção tubular ascendente, sempre descrevendo o valor quando alterado, para destacar ao clínico a presença de ectasia aórtica.
Pericárdio: Costumo descrever se há espessamento ou não, se há derrame pericárdico, seu grau (se leve, moderado ou importante), e se há aumento da pressão sobre as cavidades cardíacas, em especial as direitas. Não costumo colocar na conclusão o termo "tamponamento cardíaco", por considerá-lo um diagnóstico clínico, e não ecocardiográfico.
Conclusões: Por rotina, descrevo as alterações ou os parâmetros de normalidade pertinentes sempre na mesma ordem que seu aparecimento no laudo, para facilitar minha memorização e evitar deixar de descrever dados importantes. Na conclusão, creio ser adequado descrever o quadro geral, e não os valores ecocardiográficos que levaram a estas conclusões, além de, quando possível, tentar estabelecer as correlações imagenológico-clínicas para auxiliar o paciente e seu clínico assistente ao melhor tratamento. Nunca coloco sugestões de complementação com outros exames além da ecocardiografia, por achar deselegante e também para evitar complicações ético-legais.
Em resumo, esta é minha forma de descrever e laudar o exame ecocardiográfico. E quanto a vocês? Quais particularidades do seu exame não estão contempladas aqui e vocês costumam colocar no exame? e quais desses dados que costumo utlizar vocês não acham importantes? Postem nos comentários e enriqueçam a discussão!!
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